sexta-feira, 31 de maio de 2019

A amiga, a amante (Poema de Letícia Araujo)


Desci aos porões dos meus desejos. 
Uma carícia maliciosa e rolamos na cama.
Abri sua blusa, rasquei minha calcinha
Lá fora uma tarde fria - aqui dentro, nossa chama.
Você foi minha! 
Onde estavam nossos homens?
Estávamos sozinhas!

Mordi seus lábios

Suguei seus seios
Beijei todo seu corpo
Mulher e amiga - olhar cúmplice.
Sedutora e cínica - um beijo quente, 
Quente e molhado como nunca antes.
Mulher de apenas um homem e várias amigas.
Amigas não, amantes!

Voltaremos a rolar de novo na cama.

Quando nossos homens não estiverem por perto.
O toque, o abraço, o beijo quente,
O carinho malicioso, o desejo latente,
Não importando se errado ou se certo.

...e um fim de tarde juntas,

Debaixo do chuveiro, a água fria; 
Sobre os corpos, o sexo ardente.
Depois, diante dos maridos, o sorriso confidente;
Tímido, acanhado, mas patente
Que não esconde nossa especial amizade fora de padrões:
O inconfessável desejo oculto em nossos porões.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

A doce amiga (Poema de Letícia Araujo)


Minha doce amiga 
Tua boca me alicia e me prende
Enfeitiçando-me, me domina 
Me entrego ! 
Teus desejos são ordem.
Me devoras por inteira; te devoro também !
Me perco em teu corpo - quente....delicioso !
Me embriago em teu licor. 
Provo teu veneno sem no entanto desejar antídoto. 
Assim posso morrer nos teus braços. 
Mas de prazer...
...sentir o teu cansaço, 
Sentir teus seios salientes em minha pele. 
Deixe-me afogar nos teus delírios. 
Deixe-me mergulhar nos teus beijos. 
Deixe-me beber de tua fonte - abundante !
Escravizo-me em tuas paixões no espaço curto de uma noite,
Mas não quero fugir deste cárcere. 
Presa me vejo no laço de tua torre, 
No teu castelo de malícias. 
E nele, rainha absoluta, tu imperas. 

Safo de Lesbos (Poemas)


A escola de Safo - o amor em Lesbos



A escola de Safo - o amor em Lesbos

Concebeu Safo uma escola para moças, onde lecionaria a poesia, dança e música (...). Ali as discípulas eram chamadas de hetairai (amigas) e não alunas. A mestra apaixona-se por suas amigas, todas. Dentre elas, aquela que viria a tornar-se sua maior amante, Atis - a favorita, que descrevia sua mestra como vestida em ouro e púrpura, coroada de flores.
Tantos milênios passaram-se após a vida desta figura feminina excepcional, que a humanidade viveu momentos de glória e desprezo sobre sua arte e personalidade. Em 1073 suas obras, junto com as de Alceu, foram queimadas em Constantinopla e em Roma. Mas foram redescobertas poesias dela em 1897. 
Safo foi chamada de "cortesã" (prostituta), por Suidas. E contavam que havia se suicidado pulando de um precipício na ilha de Lêucade.
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Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro! 
Quem goza o prazer de te escutar, quem vê, às vezes, 
teu doce sorriso. 
Nem os deuses felizes o podem igualar. 
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia por minha carne, 
ó suave bem-querida, 
e no transporte doce que a minha alma enleia 
eu sinto asperamente a voz emudecida. 
Uma nuvem confusa me enevoa o olhar. 
Não ouço mais. 
Eu caio num langor supremo; 
E pálida e perdida e febril e sem ar, um frêmito me abala... 
eu quase morro ... eu tremo.


Safo de Lesbos


Safo de Lesbos: 
Estima-se que ela nasceu entre 610/605 aC. No seio de uma aristocrata família grega. Safo é uma das primeiras poetisas a ser registrada. Apesar de não termos muita informação biográfica sobre sua vida, sabe-se que ela assumiu o negócio da família logo após a morte de seu pai: uma academia encarregada de preparar mulheres para o casamento. 
Safo tinha à sua disposição dezenas de discípulas a quem ensinava poesia, dança e canto entre outras coisas. 
Safo se apaixonou por algumas de suas alunas e manteve relacionamentos românticos com elas. 
Teve casos de amor com homens e mulheres, lembre-se de que, naquela época, a sexualidade não era um tabu social como é agora. Dizem que ela optou pelo suicídio após ser rejeitada por Faon, um jovem marinheiro. 
Safo suicidou-se atirando-se de um penhasco na ilha de Lefkada. Embora existam aqueles que não aceitam esta versão, dado que não há registros, o mito do suicídio de Safo, juntamente com seus poemas em homenagem ao amor lésbico e ao doce feminismo, marcou seu trabalho de tal forma que ela é considerada a décima musa.



domingo, 19 de maio de 2019

Safo de Lesbos


A Átis

Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:
 "Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo”. "Seja feliz”, eu disse,
"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu?
Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.
Quantas grinaldas, no seu colo,
- Rosas, violetas, açafrão -
Trançamos juntas!
Multiflores
Colares atei para o tenro pescoço de Átis;
Os perfumes nos cabelos,
Os óleos raros da sua pele em minha pele !
[...] Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava a sua sede”
[...] Cai a lua, caem as plêiades
E é meia-noite, o tempo passa
E eu só, aqui deitada, desejante.
- Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
- Não volto mais para você,
Para você não mais volto.
                                                    Safo

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Clara Schumann, Noturno op. 6



CHOPIN noturno 20 & um Poema de Letícia Araujo



Lembro, 
a suave luz do abajour 
não superava o brilho dos teus olhos
Lembro o que senti
naquela penumbra,
naquela noite vulgar.
Lembro,
o tapete felpudo
a taça de vinho
o teu corpo nu.
A rua estava calma lá fora
com suas luzes amarelas
obscurecidas pela neblina da madrugada fria.
O dedilhar de um piano no toca discos
não quebrava a calmaria da noite.
Havia um silêncio que a música não perturbava.
Havia uma obscuridade, apesar da luz.
Choque de luz e escuridão
       ...de silêncio e som...
algo que aos reinos da fantasia nos conduz
algo que qualquer dicionário não traduz
O aconchego do nosso silêncio e som,
                     ...escuro e luz.


Bessie Smith & Jean Paul Lopes


sexta-feira, 10 de maio de 2019

Schubert Serenata & Poema "Abajour" de Letícia Araujo

Lembro, 
a suave luz do abajour 
não superava o brilho dos teus olhos
Lembro o que senti
naquela penumbra,
naquela noite vulgar.
Lembro,
o tapete felpudo
a taça de vinho
o teu corpo nu.
A rua estava calma lá fora
com suas luzes amarelas
obscurecidas pela neblina da madrugada fria.
O dedilhar de um piano no toca discos
não quebrava a calmaria da noite.
Havia um silêncio que a música não perturbava.
Havia uma obscuridade, apesar da luz.
Choque de luz e escuridão
       ...de silêncio e som
algo que aos reinos da fantasia nos conduz
algo que qualquer dicionário não traduz
O aconchego do nosso silêncioa e som,
                     ...escuro e luz.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Recife em dia de chuva - (Letícia Araujo)



Recife sob céu nublado.
Céu nublado... 
...sobre as ruas de minha alma.
Minha alma caminha molhada.
São lagrimas do céu !
Lágrimas do céu sobre minhas ruas!
As ruas de minha alma !
As ruas de Recife !

                                - Letícia Araujo -